Ácido Sulfâmico
- Sabrina Santana Klabacher
- 1 de jun. de 2023
- 4 min de leitura
Compostos ácidos estão presentes em diversas áreas de nossas vidas e em diferentes formatos, seja na composição de um suco (como o ácido cítrico), na formulação de cosméticos ou ainda em produtos de limpeza, e essa vasta gama de aplicações é resultado de características especiais dessas moléculas, que podem ser orgânicas ou inorgânicas. Um exemplo de um ácido muito importante, mas não tão conhecido popularmente, é o ácido sulfâmico.

Obtenção e características do ácido sulfâmico
O ácido sulfâmico (também conhecido como ácido aminosulfônico e ácido sulfamídico) é um ácido molecular de fórmula H3NSO3 de aspecto branco cristalino, inodoro e muito solúvel em água. Possui uma temperatura de fusão igual a 205 ºC e é decomposto em água, trióxido de enxofre (SO3), nitrogênio gasoso (N2) e dióxido de enxofre (SO2) antes de ebulir, não existindo, portanto, uma temperatura de ebulição definida.

Sua produção é feita a partir de uma mistura entre ureia e ácido sulfúrico (H2SO4) ou dissulfúrico (H2O7S2), fazendo com que seja um composto intermediário entre o H2SO4 e a sulfamida a partir da troca de um grupo hidroxila (-OH) e amino (-NH2) em cada uma das etapas. Além disso, quando colocado em solução, o ácido sulfâmico se comporta como um ácido forte, e por isso o seu manuseio é indicado apenas quando se tem em mãos os equipamentos de proteção individuais (EPI’s) como jaleco, botas, luvas de borracha e óculos de proteção.

Aplicações gerais
As propriedades desse composto discutidas acima permitem que esse reagente tenha uma série de aplicações industriais e acadêmicas atualmente. Dessa forma, o ácido sulfâmico é muito utilizado na limpeza de ferrugem e calcário como um substituto menos nocivo em relação ao HCl, já que este é responsável por causar irritações no organismo por sua elevada volatilidade. Além disso, outras aplicações comuns desse composto molecular são em limpezas de piscinas a partir da estabilização do cloro e do hipoclorito presentes na água, no tratamento de superfícies, em sínteses orgânicas, na limpeza de metais e cerâmicas, entre outros. Por ser uma molécula que não é higroscópica - ou seja, não absorve a umidade do ar -, é comum que seja usado como padrão em titulações alcalimétricas, as quais representam um tipo de análise quantitativa capaz de determinar a concentração de um composto básico (ou alcalino) a partir de sua neutralização com um ácido de concentração conhecida.
Outra importante aplicação é seu uso na obtenção de um composto chamado sulfamato de amônio (NH2SO3NH4), um sal inorgânico presente na composição de herbicidas, tintas e pigmentos, bem como de materiais retardadores de fogo muito utilizados em indústrias de papel.

Utilidade no refino de metais
Uma importante utilização do ácido sulfâmico é no setor de metalurgia, no processo do refino de metais. Nesse caso, esse reagente é utilizado para neutralizar o excesso de ácido nítrico presente numa solução resultante da etapa de dissolução do ouro pela áqua régia, já que o excesso do HNO3 dificulta a precipitação do ouro na sucessão do refino desse metal. Vale ressaltar que essa técnica é uma alternativa ao uso tradicional da ureia para esta mesma finalidade, já que o uso da ureia, apesar de também neutralizar o ácido nítrico, pode levar à formação de complexos metálicos que tornam a precipitação do ouro mais impura e incompleta, além de elevar o custo e a dificuldade do processo de tratamento de efluentes.

Para realizar a etapa de neutralização, é essencial que a solução de ácido sulfâmico esteja quente. No entanto, deve-se lembrar que esse ácido se decompõe a temperaturas mais elevadas e, portanto, não se deve aquecer a vidraria contendo a áqua régia e esse reagente. Dessa forma, o preparo dessa solução deve ser feito a partir do aquecimento a 80 ºC de água deionizada, seguido da adição do ácido em pequena quantidade mediante agitação. Assim que o sólido for dissolvido, adiciona-se mais uma quantidade e repete-se o processo até que o sólido não mais dissolva e se observe um sólido não dissolvido no fundo do recipiente.

Além disso, a quantidade de ácido sulfâmico a ser adicionada à solução de ouro em aqua régia depende do excesso de ácido nítrico presente, e a determinação desse valor pode ser feita a partir do aspecto visual ou do acompanhamento do potencial de redução (ORP) da solução.
Identificação por aspecto visual: o ácido sulfâmico é adicionado de forma lenta até que não ocorra mais a evolução de gases na solução.
Identificação pelo potencial de redução: realizado com um eletrodo de ORP, esse método permite um melhor controle quantitativo da adição do ácido sulfâmico. De forma geral, o excesso de ácido nítrico indicará um potencial em torno de +900 mV e, após neutralizado, o valor estará entre +650 e +700 mV.
Apesar de ser um procedimento relativamente simples, é preciso tomar muito cuidado ao adicionar o ácido sulfâmico na etapa de neutralização, já que o seu excesso poderá reduzir o ouro e afetar o prosseguimento do processo de refino.
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