Teste do cloreto de estanho(II)
- Sabrina Santana Klabacher
- 11 de abr. de 2023
- 4 min de leitura
Metais nobres, como ouro, prata e platina, são muito requisitados no mercado mundial, já que possuem uma vasta gama de aplicações (como nas indústrias de eletrônicos, galvanoplastia, joalheira) e seus produtos têm alto valor agregado. Nesse sentido, é interessante que o descarte dos produtos feitos por esses locais seja feito de forma mais atenciosa, de modo a retirar e reutilizar todos os resquícios de metais nobres presentes nas peças.
Entretanto, nem sempre é fácil saber se há ouro, prata, platina e os demais compostos em um determinado resíduo, fazendo com que os processos de recuperação e refino sejam mais custosos - uma vez que serão utilizados mais reagentes e em grandes quantidades - e mais trabalhosos, gerando subprodutos tóxicos que podem vir a ser um problema tanto para a empresa quanto para o meio ambiente.

Felizmente, o conhecimento químico permite que obtenhamos uma certa ideia da concentração de metais nobres em resíduos, facilitando o processo de refino. Porém, há métodos simples, baratos e fáceis de se realizar sem a necessidade de um equipamento mais específico para a realização da análise, e um exemplo muito interessante é o teste do cloreto de estanho(II).
O cloreto de estanho e seu teste
O cloreto de estanho(II) é um composto inorgânico de fórmula molecular SnCl2 usado normalmente como agente redutor em reações químicas promovidas em meio ácido e também como material de deposição em peças na indústria de galvanoplastia. Sua aparência é de um sal cristalino branco, solúvel em água e em etanol.

Outra aplicação do cloreto de estanho(II) é em seu teste homônimo. Nele, é possível identificar a presença dos metais nobres ouro, platina e paládio em uma solução aquosa a partir da mudança de coloração após a sua adição. Esse teste é particularmente útil quando necessitamos descobrir se existe e qual a concentração aproximada dos metais mencionados em uma solução residual.
De forma geral, o teste é realizado em uma placa de toque, onde já estarão presentes as soluções metálicas a serem testadas. Nelas, adiciona-se duas gotas de uma solução de cloreto de estanho(II) e observa-se uma mudança de coloração em cada uma das amostras, ocasionada pela redução dos metais a partir do SnCl2 e a consequente formação de nanopartículas metálicas. Um aspecto interessante desse teste é que a coloração gerada, além de indicar qual metal está presente, também pode variar de intensidade, dando uma ideia da concentração desse metal no resíduo.
A solução de cloreto de estanho(II) pode ser preparada em laboratório e, para isso, necessita-se de 1 g do sal e 20 mL de água destilada, que formarão uma solução turva após a dissolução. Assim, adiciona-se, em seguida, algumas gotas de ácido clorídrico até que a turbidez desapareça, finalizando, então, o preparo da solução. Além disso, é possível adicionar estanho metálico puro a essa solução recém preparada, promovendo o aumento de sua vida útil.
Teste do cloreto de estanho(II) para identificação de ouro
Para a identificação do ouro em amostras de líquidos residuais, ocorre a redução do ouro 3+ a ouro 0 (Au3+ → Au0), fazendo com que o complexo solúvel do ácido tetracloroáurico forme ouro metálico sólido, conforme mostra a Figura 3. Nesse estado, a presença de ouro é identificada por uma coloração arroxeada/amarronzada, que varia de intensidade de acordo com a concentração.

No entanto, é necessário saber se há cobre solúvel e ácido sulfuroso no meio, já que esses compostos, quando em contato com o cloreto de estanho, desenvolvem uma coloração semelhante a do ouro, levando a um falso positivo desse metal na amostra.

O teste do cloreto de estanho em outros metais
Conforme mencionado anteriormente, o teste do cloreto de estanho(II) pode ser usado também para identificar a presença e a concentração de outros metais nobres (nesse caso, platina e paládio). O funcionamento do teste ocorre de maneira similar ao teste realizado com o ouro, já que o cloreto de estanho age como agente redutor, reduzindo os compostos metálicos solúveis e fazendo-os voltar à forma metálica sólida, alterando a coloração do líquido.
Teste do cloreto de estanho em paládio
O teste de cloreto de estanho(II) em líquidos contendo paládio pode, muitas vezes, ser confundido com o resultado do mesmo teste em líquidos contendo ouro em concentrações elevadas. Logo, é conveniente realizar previamente uma diluição da amostra antes de adicionar as gotas do reagente.
Nesse teste, a redução do paládio (Figura 5) gera uma solução com diversas tonalidades, sendo o verde a predominante. Em caso de dúvidas entre a coloração ser devida ao ouro ou ao paládio, a diferenciação se dá pela análise dos líquidos diluídos, uma vez que o teste do paládio em concentrações menores tende a ser mais escuro do que o do ouro, que normalmente é mais amarelado.


Teste do cloreto de estanho em platina
A platina em solução será identificada pelo teste do cloreto de estanho(II) mediante a aparição de uma coloração laranja intensa, resultante da reação de redução do complexo de platina mostrada na Figura 7.


Cuidados e considerações sobre os resultados
Apesar de o teste do cloreto de estanho(II) apresentar resultados fáceis de identificar e analisar, alguns fatores podem atrapalhar a efetividade da análise caso não sejam tratados com atenção: a sensibilidade do teste e a validade do reagente de estanho.
Apesar de o teste funcionar para várias concentrações, quando estas se apresentam em extremos (ou seja, se são muito concentradas ou muito diluídas), a tonalidade adquirida pode ser difícil de visualizar ou de identificar. Logo, é preciso ter em mente que a sensibilidade desse teste é limitada, variando de 10 mg/L a 20 mg/L para soluções de ouro, e em cerca de 10 mg/L para soluções contendo paládio e platina (nesse caso, como as colorações adquiridas são mais intensas, a melhor visualização se dá a 10 mg/L, mas concentrações menores também podem ser detectáveis).
Além disso, outro fator de destaque é o tempo de vida do reagente SnCl2, que dura cerca de 3 a 5 semanas. Esse composto, quando entra em contato com o oxigênio do ar, se oxida e forma Sn4+, o qual não reage com os metais e não apresenta coloração. Por isso é importante sempre checar o funcionamento do reagente a partir de um teste prévio com uma solução padrão.
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