Os lixos eletrônicos - ou Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE), como também podem ser chamados - são um problema cada vez mais crescente no mundo moderno. O avanço de novas tecnologias e o lançamento de produtos diversificados fazem com que o mercado desses materiais se torne muito ativo, aumentando a compra e o consequente descarte de produtos “obsoletos” por parte dos consumidores. No entanto, quando se considera que, segundo dados divulgados pela ONU (Organização das Nações Unidas), 97% do lixo eletrônico da América Latina é descartado de forma incorreta, sendo, além disso, o Brasil o quinto maior produtor mundial desse tipo de resíduo, esse cenário configura um grave problema tanto para os seres humanos quanto para o meio ambiente, já que o lixo eletrônico libera compostos químicos que são altamente tóxicos.
Mas, afinal, o que é o lixo eletrônico e quais suas características?
Apesar de ser comumente confundido apenas com celulares/computadores descartados, o lixo eletrônico não se restringe apenas a esses materiais: também são considerados REEE geladeiras, pilhas e baterias, lâmpadas LED, monitores, ventiladores, entre vários outros (você pode conferir uma lista mais detalhada aqui). No entanto, apesar de serem subdivididos em muitos tipos, todos possuem a mesma característica: podem ser tratados de forma específica e, com isso, podem gerar uma renda extra àqueles que trabalham com tais materiais.
A principal característica de interesse a respeito do lixo eletrônico é sua composição, que é feita normalmente a partir de plásticos, vidros e metais como alumínio, cobre, ferro, prata e uma pequena quantidade de ouro, e são principalmente esses dois últimos metais que geram interesse no processo de retratamento desse tipo de resíduo, uma vez que são considerados metais preciosos. Assim, descartar inadequadamente esses materiais, além de perder metais preciosos e com certo valor de mercado, também podem causar prejuízo ao meio ambiente pela contaminação de metais pesados.
Logo, como podemos reaproveitar os REEE?
A forma primordial de reaproveitamento dos REEE é a reciclagem. Por isso, o descarte correto - feito em postos especializados nesse tipo de resíduo - é essencial. No entanto, também é possível recuperar os metais a partir da separação de seus componentes e do refino, apesar de ser um processo trabalhoso (já que é considerado um resíduo de baixo teor). Então, para iniciar a separação, deve-se considerar onde o metal de interesse se encontra - se no interior de chips ou exposto na superfície externa - para depois prosseguir com o refino, a fim de realizar métodos mais assertivos.
Recuperação de metal nos chips pretos
Os chips pretos são circuitos integrados, feitos a partir de silício e microfios de ouro puro. A concentração de ouro nesses componentes depende da qualidade do material e da função do circuito, mas considera-se que, normalmente, o teor de ouro encontrado nesses materiais é de aproximadamente 0,1%.
A recuperação do metal nesse material normalmente é feita a partir da queima sem a presença de oxigênio (denominada pirólise), seguida pela moagem à 150 mesh (ou, alternativamente, com a queima com a presença de oxigênio), e, por fim, pela separação por densidade. Ao final desse processo, o ouro provavelmente estará em um teor suficiente para prosseguir com o refino padrão - a partir da dissolução em aqua régia.
Atenção! A pirólise é uma etapa importante nesse processo, e sua realização deve ser feita com equipamentos adequados. Assim, os chips devem ser colocados em um recipiente que possa ser aquecido por volta de 600 ºC, que possua tampa e um pequeno furo para atenuar a pressão.
Recuperação de metal em partes banhadas
A recuperação dos metais banhados das peças é relativamente mais simples do que a realizada no caso dos chips pretos. Para realizá-la, basta mergulhar as peças em uma solução decapante sob agitação, deixando os materiais em contato até que se perceba o fim do poder decapante da solução.
Esse processo resultará em uma solução alaranjada contendo ouro dissolvido, e então é transferida para outro recipiente onde serão adicionados zinco em pó e hidróxido de sódio a fim de precipitar os metais de interesse na forma de pó metálico. Em seguida, o sólido é decantado e lavado várias vezes de modo a retirar possíveis contaminantes (especialmente o cianeto residual) e, feito isso, adiciona-se ácido nítrico - responsável por corroer os metais e deixar apenas o ouro - e o sólido restante é separado e lavado três vezes. A partir daí pode-se prosseguir com a purificação do ouro a partir da dissolução em aqua régia.
É imprescindível destacar que, durante todo esse processo, desde o seu início até o final, que seja trabalhado em ambientes adequados (com capelas de exaustão e lavadores de gases) utilizando EPIs, uma vez que o decapante possui em sua composição cianeto, o qual, quando em contato com ácidos, forma um vapor letal. Por isso, a lavagem cuidadosa de todos os resíduos sólidos é essencial.
Vale ressaltar, ainda, que as especificidades do refino variam de acordo com o metal de interesse que está sendo recuperado - sabendo que ouro, prata e paládio estão presentes em maior quantidade do que a platina, por exemplo - mas o esqueleto geral do processo não se altera. Além disso, os dois métodos apresentados acima são recomendados para uso em pequena escala; para escalas maiores ou até mesmo industriais, o resíduo é normalmente fundido em conjunto e recuperado por eletrólise. Esse último processo proporciona não apenas a recuperação dos metais preciosos, como também de todo o cobre presente no resíduo - o que pode ser muito lucrativo em grandes quantidades.
Siga-nos no Instagram @aurhora_analises, curta nossa página no Facebook (Aurhora Análises) e assine nossa newsletter para mais conteúdos como esse!
Comments