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As temperaturas da chama do maçarico e os pontos de fusão de diferentes materiais

  • Sabrina Santana Klabacher
  • 3 de dez. de 2024
  • 4 min de leitura
chama de maçarico

A mudança do estado físico de compostos está presente em vários processos do cotidiano, como no preparo do café, na obtenção do gelo, entre outros. Assim, nas áreas da metalurgia e ourivesaria não é diferente, uma vez que os metais – a matéria prima desses setores – são frequentemente trabalhados e retrabalhados, liquefeitos e solidificados, para a obtenção de uma série de produtos com diferentes finalidades. Nesse sentido, tais alterações na estrutura dos materiais é feita a partir do fornecimento de energia no sistema e, nesse caso, a principal fonte é o calor. Assim, dentre as diversas formas de se fornecer calor, destaca-se uma das principais ferramentas utilizadas nesses setores: o maçarico.


maçarico
Figura 1. Maçarico.

O maçarico é um equipamento cuja função é gerar uma chama regulável a partir da mistura de diferentes tipos de gases, como o GLP (gás de cozinha), acetileno e propano. Em sua estrutura é possível observar duas mangueiras, as quais são responsáveis pela condução do oxigênio e do gás a ser misturado, e é essa mistura de gases que permite a ocorrência de uma reação de combustão, responsável pelo surgimento da chama e, consequentemente, do calor, uma vez que essa reação é exotérmica.


Além disso, é válido ressaltar que a temperatura da chama está intrinsecamente ligada com a mistura de gases envolvida: uma reação entre o acetileno e o oxigênio possui temperatura mais elevada, em cerca de 3.087 ºC, enquanto uma mistura entre gás de rua (formado por metano, monóxido de carbono e hidrogênio) e ar gera temperaturas mais brandas, em torno de 1.100 ºC. Isso porque há uma relação entre o tamanho da cadeia carbônica oxidada e a energia liberada na reação. Abaixo, na Figura 2, é possível observar as temperaturas máximas de cada chama para certos tipos de misturas gasosas.


tabela
Figura 2. Misturas de gases e suas respectivas temperaturas máximas alcançadas. Fonte: Metalurgia básica para ourives e designers.

As chamas do maçarico podem ser divididas em três tipos: neutra, redutora ou oxidante, e cada um desses tipos possui uma característica diferente, seja em relação à temperatura alcançada ou ao tipo de processo em que é usado. Contudo, para entender o que diferencia cada tipo, é necessário entender, primeiramente, a estrutura geral de uma chama.

 

Estrutura da chama

De maneira geral, uma chama é formada a partir da liberação de energia feita por uma reação química exotérmica entre um comburente (como o oxigênio) e o combustível (o material que é queimado, como compostos orgânicos). Tal processo químico é denominado combustão, a qual pode ser completa (quando o comburente presente é suficiente para queimar todo o combustível) ou incompleta (quando há algum fator em menor quantidade na reação). Destacamos, na Figura 3, as reações químicas envolvidas em ambos os tipos de combustão.


fórmulas de reações químicas de combustão completa e incompleta do propano
Figura 3. Reações de combustão completa e incompleta do propano.

Visivelmente, é possível diferenciar esses dois tipos de combustão: enquanto o primeiro gera uma chama azulada uniforme, o segundo possui coloração amarela típica e irregular, frequentemente acompanhada da presença de fumaça escura e/ou fuligem (Figura 4).


Aspecto das chamas provenientes de uma combustão incompleta (à esquerda) e de uma combustão completa (à direita).
Figura 4. Aspecto das chamas provenientes de uma combustão incompleta (à esquerda) e de uma combustão completa (à direita).

Além disso, todas as chamas possuem zonas específicas, a saber: a zona de mistura de gases, de combustão primária e a zona de combustão secundária. Cada uma dessas porções possui composições e temperaturas diferentes.


  • Zona de mistura: é onde os gases envolvidos no processo de combustão são misturados.

  • Zona de combustão primária: é onde ocorre a primeira etapa da reação de combustão. Nela, o gás combustível reage com o oxigênio na proporção de 1:1, gerando monóxido de carbono. É a região de temperatura máxima da chama, e gera a região do cone primário, que possui coloração azulada devido à presença de CO.

  • Zona de combustão secundária: é onde ocorre a segunda etapa da reação de combustão. Nela, o monóxido de carbono é transformado em gás carbônico, que é incolor na chama. Por isso, a zona de combustão secundária forma um cone externo geralmente incolor e de difícil visualização.


Esquema com estrutura de uma chama.
Figura 5. Estrutura de uma chama.

Tipos de chama do maçarico

Por possuir mangueiras que regulam a quantidade de gás liberada, o maçarico pode gerar três tipos principais de chamas: a redutora, a neutra e a oxidante. Tais diferenças são essenciais para a realização de processos diferentes, como a fundição de metais ou a soldagem de peças, que exigem chamas com características específicas.


  • Chama redutora: é gerada a partir da mistura de gases com excesso de combustível em relação ao comburente. Possui em seu comprimento uma coloração esverdeada/avermelhada, e a fusão de metais como prata e cobre, se realizada na zona de combustão primária desse tipo de chama, evita a oxidação.

  • Chama neutra: muito usada no processo de soldagem oxiacetilênica, a chama neutra é obtida a partir da mistura em igual proporção dos gases combustível e comburente. O aspecto da chama neutra conta com um penacho longo, brilhante e arredondado.

  • Chama oxidante: é obtida quando há excesso de comburente na mistura de gases. A chama gerada possui temperatura elevada, fazendo com que seja comumente usada em processos de fusão. Tem um cone interno afunilado e transparente, com penacho azulado e turbulento. Além disso, gera um ruído característico.


Esquema com aspectos dos três tipos de chama de um maçarico.
Figura 6. Aspectos dos três tipos de chama de um maçarico.

As chamas e a fusão de diferentes materiais

Conhecer os tipos de chamas, suas funcionalidades e características se torna imprescindível para realizar de forma correta e eficiente o processo de fusão de materiais. Para realizar soldagens ou fundições, conhecer o metal que está sendo utilizado, bem como suas temperaturas de fusão e ebulição, é essencial para evitar perdas de massa por evaporação, ou ainda para evitar a realização do processo mais de uma vez devido à utilização de uma temperatura insuficiente.

Dessa forma, aliando os conhecimentos acerca das chamas de um maçarico e os pontos de fusão dos diferentes materiais, é possível realizar o processo desejado com maior conforto e assertividade.


Mostramos, na Figura 7, uma série de metais comuns de serem trabalhos nos setores metalúrgico e joalheiro com seus respectivos pontos de fusão e ebulição. A partir deles, é possível determinar, por exemplo, qual mistura de gases seria mais eficiente em questão de temperatura para realizar a soldagem de uma peça de cobre com metal de adição feito de prata: gás oxigênio + GLP com uma chama neutra.


Tabela de pontos de fusão e ebulição para diferentes metais.
Figura 7. Tabela de pontos de fusão e ebulição para diferentes metais.

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